Querido pai, onde você está?
Papai, suas ausências são como dias nublados em minha vida. Esperava por você em tantos aniversários, em tantas apresentações escolares e principalmente nos momentos mais difíceis. Agora, vejo-me adulto, mas ainda com o coração de uma criança ansiosa por sua atenção. Onde você está? Onde esteve todos esses anos, enquanto eu, desamparado, tentava entender por que você não estava ao meu lado?
A dor da ausência
Há uma dor silenciosa e constante em crescer sem a figura paterna presente. É um vazio que nem todos entendem, uma lacuna que se alarga a cada evento significativo. Quando criança, os amigos no parquinho falavam sobre seus pais com tanto amor e orgulho, e eu, envergonhado, inventava histórias sobre você. Queria acreditar naquelas mentiras, queria sentir aquele mesmo orgulho.
Esperança de uma reconciliação
Apesar de tudo, pai, meu coração ainda guarda uma esperança. Esperança de que um dia, talvez amanhã, talvez em um futuro distante, você reconheça a importância de estar presente. É difícil, mas todos os dias procuro eliminar a mágoa e dar espaço ao perdão. Quanto desejo ouvir seu “eu estou aqui agora”.
Moldando-se sem você
Cresci à margem do que poderia ter sido, aprendendo a ser forte, não porque alguém me ensinou, mas porque a vida exigiu. Tomei a coragem de quem teve que enfrentar a ausência, de quem se fez, mesmo sem moldes. As minhas conquistas são fruto de uma persistência solitária, de uma vontade inabalável de provar, talvez para mim mesmo, que sou capaz. Mas ainda assim, seus ensinamentos, mesmo nunca proferidos, fazem falta.
O impacto em meu caminhar
Sua ausência moldou não só a minha infância, mas todos os dias depois dela. Em cada decisão, em cada desafio, sinto a falta de um guia, de alguém que me dissesse qual caminho seguir, que advertisse sobre os perigos. Tive que aprender a confiar em mim mesmo, e muitas vezes falhei, pois a cobrança por não ter você ali persistia.
Complexo de inferioridade
A maior batalha talvez tenha sido contra o sentimento de inferioridade. Cresci acreditando que não ser bom o bastante talvez fosse a razão para sua ausência. Era mais fácil culpar a mim do que entender os seus motivos. Sei que essa crença é irracional, mas ela criou raízes profundas no meu ser. A cada conquista, ao invés de sentir orgulho, muitas vezes sentia um alívio temporário, como se estivesse tentando preencher um buraco infinito.
Resiliência aprendida
Apesar de tudo, sua ausência também me trouxe uma lição valiosa: a resiliência. Nos momentos mais difíceis, quando tudo parecia desmoronar, uma força interior emergia. Foi nesses momentos que percebi que, mesmo sem sua presença, eu tinha a capacidade de superar. Foi doloroso, mas cresci com essa dor, me tornei mais forte e determinado.
O desejo de uma nova história
Talvez seja tarde para mim, talvez não consiga fazer as pazes com o passado, mas ainda há tempo para escrever uma nova história, pai. Não só para mim, mas para você também. Ainda é possível reconstruir pontes, desfazer nós emaranhados pelo tempo. O desejo de encarar você e dizer tudo o que esteve guardado no meu peito é grande. A vontade de ouvir o seu lado da história, entender seus motivos, acalenta meu coração.
Um pedido de recomeço
Então, pai, espero que receba estas palavras como um convite. Um convite para recomeçar, para estar presente a partir de agora. Que possamos construir uma nova narrativa, diferente da que foi escrita até aqui. As cicatrizes estarão sempre aqui, mas podemos torná-las menos dolorosas, podemos, juntos, começar a curar essa ferida.
As memórias que gostaria de ter
Gostaria de ter as lembranças de um pai me ensinando a andar de bicicleta, de noites estreladas compartilhando histórias, de você presente nas minhas formaturas. Essas memórias não fazem parte do meu álbum, mas ainda há espaço para novas recordações. Ainda há tempo para criar momentos preciosos, memórias que posso guardar com carinho e orgulho.
Últimas considerações
Quero que saiba que, apesar de tudo, o amor que sinto por você nunca desapareceu. Ele esteve adormecido, reprimido pelas mágoas e pela dor, mas ainda vive dentro de mim. Espero que possamos encontrar nosso caminho de volta um para o outro. Espero que, um dia, possa olhar para trás e sentir que fizemos as pazes com o passado, que crescemos e nos tornamos melhores juntos.
Com carinho e esperança,
Seu filho/filha